segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Implusão democrática: o suicídio apocalíptico !




Viajantes do espaço cibernético e 

Leitores ocasionais que por aqui passais...


Olá,

com 66 anos, tenho uma vivência ímpar: até aos 20 anos de idade, vivi em ditadura e assisti ao advento da Liberdade, que chegou pela calada da noite do dia 25 de Abril de 1974, espalhada pelo odor dos cravos da baixa Pombalina, entre o espanto das floristas e o pasmo de quem via os carros de assalto ocupar os pontos nevrálgicos da capital do Império Lusitano !

Como no malfadado dia 1 de Novembro do ano de Graça de 1755, depois de um terramoto aterrorizador, um tsunami avassalador e os incêndios devastadores que seguiram, Lisboa era notícia planetária, mas desta vez carregada de esperança, graças a meia dúzia de loucos, outros tantos idealistas, o dobro de oportunistas e muitos mais traidores !

Uma semana depois, no primeiro 1º de Maio - Dia do Trabalhador - percebi que, para mim,  revolução nasceu e estava manipulada e armadilhada !

Afinal, o golpe militar nunca quis, como dizia a sinopse do programa do MFA - Movimento das Forças Armadas - no seu tríplice D - Descolonizar, Democratizar e Desenvolver, como se verificou pouco depois, quando os esquerdistas, uma minoria entre o povo, tomou o poder de assalto, instaurando o caos e o medo, com invasões arbitrárias de propriedades rústicas, urbanas e industriais, sobretudo nas zonas de influência comunistas !

Felizmente que a aventura marxista, num esquizofrénico devaneio totalitário, foi parada no dia 25 de Novembro de 1975 e a euforia da ditadura do proletariado baixou a crista, passando a boicotar a revolução, a nação e a democracia na sombra, com a ajuda criminosa dos boçais da liberdade, entretanto infiltrados e instalados na máquina estatal, onde os camaradas ocupavam postos de chefia !

Assim, mesmo nunca ganhando eleições, os esquerdistas exerciam o seu poder de influência, de manipulação e de sabotagem, sob anonimato, da democracia, quando não eram os atentados bombistas, como aqueles perpretados pelas FP25 e os dos bombistas solitários como aquele que, no dia 4 de Dezembro de 1980, fez explodir o Cessna onde seguiam o Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa de Portugal, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, e restante comitiva que se deslocava para um comício da Aliança Democrática na cidade do Porto !

Passados 40 anos e várias comissões de inquérito e peritagens internacionais, até hoje ninguém conhece o rosto dos comanditários de tal crime !

Sabe-se, contudo, que o principal visado era o Ministro da Defesa que, dizem, estava prestes a denunciar um tráfico de armas relacionado com a Guerra no Ultramar, de 1961 a 1974, com a cumplicidade e o favorecimento de altas patentes militares, provavelmente algumas a quem teriam sido concedidas honras de Estado e condecorações por altos serviços prestado à Pátria, quando, na realidade eram traidores que deveriam ter sido julgados e condenados, ou fuzilados, a menos que se tratasse de heróis da foice e do martelo, para quem todos os meios seriam bons, desde que Portugal se tornasse uma Cuba da Europa !

Cansado e desiludido com o povo indolente e a manipulação democrática e porque a vida nunca espera, decidi abandonar Portugal por uns tempos, até que as universidades fossem reabertas e, sobretudo, para que os comunistas de Murça esquecessem o jovem professor que ousava fazer-lhes frente pelos povoados do concelho, de megafone, quando não era nas sessões de esclarecimento, nomeadamente na minha terra natal, Fiolhoso, em Jou do meu amigo Costa Leite ou em Murça, do meu motorista, confidente partidário e colega de aventura, Belmiro Teixeira, onde decorreu um comício com futuro Ministro do Trabalho e, mais tarde, Representante da Comunidade Europeia no Brasil, o flaviense Amândio de Azevedo !

Por razões familiares, onde o meu pai e o meu irmão já trabalhavam, vim para o Luxemburgo, onde cheguei no dia 10 de Janeiro de 1976, depois do Verão Quente de 1975, em que Portugal esteve à beira da guerra civil, de tão acirrados que andavam os ânimos contra as arbitrariedades do governo Gonçalvista e do Popcon do Major Otelo Saraiva de Carvalho, seu braço militar.

Confesso que, apesar do heroísmo do General Ramalho Eanes e do Major Jaime Neves, transmontano como eu, um mês e meio antes, em 25 de Novembro de 1975, e com apenas um ano e meio de revolução, eu já não acreditava em Portugal e o meu sonho de Liberdade e de Grandeza Nacional se desvanecera !

Deixei Portugal com profunda tristeza e muita raiva por me sentir tão insignificante para mudar as coisas e desmascarar e derrubar os falsos democratas que o nosso povo idolatrava, apesar de estarem a levar o país, pensava eu, para o abismo ou a guerra civil e o derramamento de sangue ! Naquela hora, o jovem idealista, que eu era, deixou-se intimidar e, para descarga de consciência, endofasicamente. com os meus botões, admitia que um povo tão invertebrado, que só gritava Deus nos livre do comunismo e nem às sessões de esclarecimento ia, não merecia que eu morresse por ele ! 

Em quinze dias de Luxemburgo, percebi a diferença entre a democracia de exigência, disciplina e respeito e a democracia de subserviência, de atropelos e ilegalidades, como as que se estavam a fomentar e a cometer com invasões e nacionalizações arbitrárias, com o pretexto e a desculpa de melhor servir o povo livre !

No Luxemburgo, vi que a liberdade rimava com responsabilidade e que, até nos usos e costumes do Grão Ducado, não se fabricavam doutores cada vez que se abre a boca, e que as pessoas se olhavam mais na horizontalidade, olhos nos olhos, em sinal de igualdade e de respeito mútuo, ao invés da nossa terra, onde os olhares eram de cima para baixo ou debaixo para cima, segundo a condição social e económica de cada um !

Uma democracia, com olhar assim, nunca seria verdadeiramente inclusiva e libertadora, porque cada um carregava a ditadura na retina, ao sabor da maré de sorte ou de azar !

Aqui, logo que tive que tratar de assuntos com as repartições públicas luxemburguesas, percebi que os funcionários estavam lá para servir todo o mundo, tanto autóctones como estrangeiros, do mesmo modo e sem vaidades bacocas ou subterfúgios suscitadores de favorecimento pessoal e isso fez-me lembrar, quando, nas lides partidárias e nas campanhas de propaganda, os meus ajudantes me cochichavam " se o senhor se candidatar a Presidente da Câmara, não se esqueça de me arranjar um emprego " , que me fazia sorrir e me convencia que não seria num país assim que eu viveria e não seria assim o Portugal dos meus sonhos, onde só o mérito, da competência e da dedicação, contariam, tão incorruptível e justiceiro me sentia, desde que, criança ainda, vi como pessoas sem escrúpulos tinham feito a cama e ajudado os meus pais, donos de uma mercearia, irem à falência !

A disciplina, a exigência e o respeito, que aqui descobri, levaram-me a adoptar como meu, também, o Luxemburgo, que passei a dar como um bom exemplo por onde viajei, até no facto de, para mim, a Monarquia Parlamentar fomentar mais a União Nacional, enquanto a República, com as constantes guerras fratricidas, entre partidos que apenas existem pelo poder e para exercer o Poder, provocam divisões destruidoras da harmonia, da identidade e dos recursos nacionais ! 

No fundo, como parafraseando José Saramago, todos uns salafrários que se unem para roubarem juntos ou cada um durante o seu mandato !

Ora roubas tu, ora roubo eu e ambos chegamos ao Céu, porque o povo fica sempre no inferno !

Quantas vezes, eu me perguntava: o que seria e onde estaria Portugal, sem corrupção e  sem tanto jogo mesquinho e fútil, de gente que construía a sua importância e fortuna na insignificância da gente que enganava e explorava sem vergonha ?

E, como escrevi numa sinopse da minha autobiografia em 2001, aquando da apresentação do meu romance La Force du destin - A Força do destino - no salão do livro, do Festival da Emigração que ocorreu de 18 a 21 de março, no pavilhão do Limpersberg, aqui, numa geração realizei muitos sonhos impossíveis, mas conheci também a dor amarga da saudade e, de adiamento em conformismo, vi o meu sonho de criança esvair-se nas brumas da ilusão, antes de cair irremediavelmente nas masmorras da virtualidade.

Jurista nunca cheguei a ser, mas muito me honram as inúmeras causas que advoguei, sobretudo as que perdi para defender a minha íntima convicção, neste meu itinerário pelo Grão Ducado do Luxemburgo.

Aqui, fui, realmente, estudante, operário, fotógrafo, locutor de rádio, professor ou agente imobiliário, e, muito naturalmente, escritor..., porque isso comecei a sê-lo nos bancos da escola da minha terra natal, Fiolhoso, uma aldeia do concelho de Murça, onde nasci a 24 de novembro de 1954, depois do toque das Trindades, no primeiro piso da casa onde os meus pais tinham a única taberna da aldeia.

Devo confessar que, a par com a escrita e o desporto, sempre fui viciado em política, assistindo até ao fim os debates que conseguia sintonizar nas diversas cadeias de televisão lusófona e, sobretudo, francófona, nomeadamente as francesas, desde que cheguei ao Luxemburgo, não perdendo pitada de cidadania e geopolítica ! Até porque o primeiro título que eu li foi no jornal Novidades, que chegava sempre atrasado à casa do Abade e amigo da minha família, o sr Padre Ferreira, no dia 24 de Novembro de 1963, dia do nono aniversário, " mataram o Presidente Kennedy ", referindo-se ao assassinato ocorrido em Dallas na antevéspera. 

Não admira pois que aos 25 anos, na minha primeira viagem de avião ao Rio de Janeiro, onde cheguei a 16 de dezembro de 1979, para visitar a minha avó e os meus tios cariocas de nascimento, eu me tivesse apercebido de muitos dos vícios e desmandos da política brasileira.

Não é que fosse mais inteligente, mas as minhas vivências e experiências lusitanas e luxemburguesas, permitiam-me ter termos de comparação com a realidade europeia de uma democracia exigente como a luxemburguesa e a brasileira onde, apesar do aparato do regime militar, eu tinha a sensação de viver noutro planeta, mais violento, mais desigual e mais injusto, onde eu, sem saber ainda muito bem porquê,  via tudo do avesso !

Claro que essa percepção piorou depois da Constituinte de 15 de Fevereiro de 1985, depois da restauração da democracia, até porque o presidente eleito o senador Tancredo Neves, morreu alguns dias antes ser empossado, algo que me pareceu altamente suspeito !

Essa desconfiança, de que a democracia brasileira era um embuste e uma farsa sabiamente orquestrada por mentes criminosas teve a prova dos nove com o impeachment do Presidente Fernando Collor de Melo.

Desde então, a democracia do crime foi armadilhando o maior país da América Latina e o pulmão da humanidade, que todos os abutres do planeta querem violar, explorar e despojar das suas riquezas, nomeadamente os metais nobres, como o ouro e o nióbio. 

Depois do inimaginável, surpreendente e temerário ataque suicida às Torres Gémeas  - Twin Towers - do World Trade Center de Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 2001, e as consequentes invasões do Afeganistão e do Iraque, o mundo descobriu estupefacto o lado escuro de um terrorismo sanguinário, cego e louco e não voltou a ser o mesmo !


continua ...