domingo, 5 de dezembro de 2010

Afinal quem assassinou Sá Carneiro?!


Estávamos em Novembro de 1973!


Em Portugal, " Simplesmente Maria ", o folhetim radiofónico que apaixonava toda a gente, até porque já começava a ser deprimente levar todas as semanas com as enfadonhas " Conservas em Família " do Chefe do Conselho, o mui ilustre Marcelo Caetano, ia ocupando as noites de um povo resignado e fatalista: afinal a guerra no ultramar já não era para ganhar - porque senão deixariam o Spínola usar o napalme e acabar com a raça dos turras de uma vez - e a liberalização do regime ficaria para mais tarde, até porque da ala liberal,eleita em 1969 para a Assembleia Nacional Popular, só restavam meia dúzia iluminados suicidários que o rolo compressor da ditatura reduzira à figura de gatos pingados. 

Foi nesse contexto que ouvi falar de 2 políticos: um, Casal-Ribeiro - lambebotas do regime - e outro Sá Carneiro, um intrépido advogado do Porto, homem de baixa estatura, mas com alma de gigante, um daqueles predestinados que um país vê nascer de cem em cem anos.A empatia com Sá Carneiro foi como um " coup de foudre " .

Nesse fim de 1973, então seminarista no Instituto Salesiano de Manique do Estoril, a minha libertação interior já estava em marcha! Em finais de Dezembro, eu, tímido e sonhador, que me deixara escravizar pela sagrada tirania à flor da pele para melhor libertar a minha alma, decidi fazer a minha revolução, sem saber porquê, mas sem hesitar.Nos meus monólogos com as musas dos meus poemas e os duendes das minhas viagens quiméricas, a Liberdade era a mais sublime das rosas do meu jardim secreto, esse mundo sem portas nem janelas, mas do qual eu guardava religiosamente a chave!

Sagitário com ascendente Cancer, eu era um idealista que sabia que, no mundo ou na pessoa, não se pode mudar quem tem vontade e se apraz em continuar preso e subserviente de dogmas, incapaz de mudar a cor sépia ou cinzenta dos seus sonhos.Para mim, Sá Carneiro era Jesus Cristo, Nuno Álvares Pereira ou Che Guevara incarnado que surgia num arco-íris de Esperança para Portugal.

Passados meses, quando nas primeiras horas da revolução, vi Sá Carneiro saltar para as luzes da ribalta, sorri apenas!Sorri como o menino que vê realizar, assim inopinadente, o sonho que alimentou em segredo, contra tudo e contra todos, contra os maldizentes, os invejosos e os incrédulos.

Em Agosto, voltando ao meu trás-os-montes natal, a primeira coisa que fiz foi ir inscrever-me orgulhosamente no PPD, na sede do Calvário em Vila Real. 
Depois, com Orlandino Varejão, que nunca mais vi, e alguns Murcenses, demos início à divulgaçao dos ideais sociais-democratas com sessões de esclarecimento e comícios, até porque, para defender Portugal do comunismo, todos eram poucos.
Em 1975, estava em Vila Real, quando Sá Carneiro, regressando de Londres para reassumir o partido, fez desabar o palanque mal o pisou, ficando sereno e impávido como se nada acontecesse, perante um côro de palmas e uns " bruahs " de " ah grande Homem " !



Pronto!


O que tinha Sá Carneiro de especial para " cativar e seduzir " tanta gente, mesmo quando o Prec - Período Revolucionário Em Curso - mais parecia Portugal Reduzido (à) Escumalha Comunista ? 

Francisco Sá Carneiro era um Homem que alimentava a sua Coragem na força das suas Convicções e se sabia predestinado a servir Portugal. Era um anti-conformista, um Reformista, intrépido, intransigente e impaciente de ver a social-democracia devolver a Portugal a sua aura Universal.

Sá Carneiro preferia um conflito esclarecedor a uma concessão podre! Foi assim em todas as vertentes da sua vida, como político, que nunca subalterniza a sua consciência ao charme e ao fascínio do poder corruptor dos fracos e dos homens sem alma que nunca conhecerão, por mais vidas que tenham, a aura dos justos e daqueles nem de uma geração precisam para conhecer a imortalidade.Sá Carneiro assumia do mesmo modo e com a mesma frontalidade e coerência as suas opções , as suas decisões e as suas paixões, indo contra o " política ou moralmente " correcto, como se viu quando desafiou a influente e ominipotente igreja católica e amou, aos olhos de toda a gente, a mulher proibida ! 

Francisco Sá Carneiro era um Homem, tão só e apenas, mas como ele Portugal não teve muitos depois do 25 de Abril de 1974, porque não teria descido tão baixo e batido no fundo.



Afinal que matou Sá Carneiro? 


Há 30 anos, muita gente !
Os seus inimígos políticos, com o pensamento, milhares de vezes! Os " boçais " da revolução que sabiam que, com Sá Carneiro, jamais implantariam em Portugal a " ditadura do proletariado " e, dizem, os " generais " que viviam da guerra e temiam ser denunciados e ficar sem os fundos secretos, se Adelino Amaro da Costa os entregasse à justiça!

Matou Sá Carneiro a mente sicária do " camarada capanga " que encomendou a sua morte e pagou à mão assassina do capacho cobarde que fez explodir o Cessna !

Durante anos, continuou a matar Sá Carneiro, a justiça portuguesa e todas as comissões de inquérito de parlamentares cobardes que não tiveram a coragem de ir até ao fim da verdade!

Depois, mataram Sá Carneiro, todos os oportunistas póstumos que delapidaram a sua herança política, os judas que vilipendiaram a sua démarche e enfiaram na gaveta a social-democracia reformista e de, concessão em traição, tudo fizeram para que o xuxalismo de uns e de outros, tal abutre esfomeado, fizesse de Portugal uma presa fácil que homens cínicos e corruptos vão esquartejando em vida.

Matou Sá Carneiro quem transformou o Homem verdadeiro e vertical em mito para melhor dele se livrar e não ter que quotidianamente ver a sua mesquinhez e a sua futilidade refletidas o espelho invisível, mas incriminador, de alma tão generosa!

Hoje, mata Sá Carneiro, quem não o deixa em paz, porque o grito da sua morte continuará a eclodir no silêncio cúmplice de quem não soube fazer justiça e de todosos capachos e os capangas, os camaradas e os companheiros, os cobardes e os corruptos que se aproveitaram do seu fim prematuro para destruir o futuro do país.

Até quando ficará Portugal órfão de Sá Carneiro?


Fez-me bem recordar-te !
Repousa em paz, meu amigo!


LMP - Luxemburgo, 05-12-2010

Nb: Como foi triste ser confrontado com a sua morte súbita!
Entrava no Café de la Place, naquele fatídica noite de 4 de Dezembro de 1980, quando vi a TF1 - a TV francesa - anunciar a morte do Homem que, no mesmo canal, meses antes, assegurava os franceses do apoio incondicional do Presidente Giscard d'Estaing ao pedido de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia.Parece que ainda o estou a ver a responder ao jornalista num francês perfeito deixando-o sem jeito nem argumentos quando lhe disse, se a memória não me atraiçoa, isto: " Je viens d'obtenir du Président Valéry Giscard d'Estaing l'appui inconditionel de la France à demande d'adésion du Portugal à la CEE !"

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