sábado, 11 de setembro de 2010

Carta aberta ao povo português ! - continua...


Caros compatriotas,
depois de passar mais de 3 décadas a escrever e a gritar contra os desmandos dos nossos políticos, decidi escrever-vos uma carta aberta, do Luxemburgo, o pigméu com coração e alma de gigante, que me acolheu de braços abertos!

Com efeito, em Janeiro de 1976, cansado de esperar pela abertura da faculdade, que os marxistas haviam trancado a sete chaves dois anos antes, decidi vir ver como o meu pai, emigrante desde 1969, ganhava os francos com que me pagava os estudos, na Escola Salesiana do Estoril. 

Vim por curiosidade, mas acabei por ficar. E já lá vão quase 35 anos! 
Numa geração realizei muitos sonhos impossíveis, mas conheci também a dor amarga da Saudade e, de adiamento em conformismo, vi o meu sonho de criança esvair-se nas brumas da ilusão, antes de cair irremediavelmente nas masmorras da virtualidade. 
Jurista nunca cheguei a ser, mas muito me honram as inúmeras causas que advoguei, sobretudo as que perdi para defender a minha íntima convicção, neste meu itinerário pelo Grão Ducado do Luxemburgo. 
Aqui, fui, realmente, estudante, operário, fotógrafo, locutor de rádio, professor ou agente imobiliário, e, muito naturalmente, escritor..., porque isso comecei a sê-lo nos bancos da escola da minha terra natal, Fiolhoso, uma aldeia do concelho de Murça, onde nasci há 55 anos.

Hoje, depois de conhecer o desemprego como muitos de vós, posso considerar-me, sem falsos pudores ou imodéstia, um homem de sucesso, porque vivi experiências enriquecedoras e, mesmo quando me encontrei no fundo do poço, acreditei que aquela provação era para me testar e preparar para outros desafios e outras vitórias pessoais e profissionais.

Com o esforço do meu trabalho árduo e a perseverança da minha integridade, recusei subsídios quando mais precisava deles: as contas da casa, a prestação bancária e a educação dos filhos, sei muito bem o que isso é e o medo e a apreensão que representa, quando os nossos sonhos se desmoronam com o desemprego ou uma fatalidade.
Um pai de verdade nunca cede à facilidade e à fatalidade, porque deve estar consciente da sua responsabilidade antes de assumir e de exercer efectivamente a paternidade.
Como muitos de vós, também corri um ano para os escritórios do fundo do desemprego e aceitei todas as propostas que me fizeram, mesmo podendo recusá-las, porque para funcionário ou professor de português as portas estavam todas trancadas.
Sempre tendo vivido do meu salário,com 3 filhos para criar, encargos fixos de mais de 1500€ por mês e sem outros recursos, sabia que não podia ficar de braços cruzados à espera das esmolas que, por princípio e íntima convicção, sempre rejeitei.
Em 1998, no ano em que estive desempregado, enviei dezenas de " curriculum vitae ", recebendo as respostas que muitos de vós já conhecem, acabando por eu mesmo me dirigir a um centro de trabalho temporário, onde aceitei trabalhar 3 semanas para uma empresa onde cruzei compatriotas nossos que lá trabalhavam há décadas, que sempre foram, pelo menos exteriormente, muito compreensivos comigo. Dois dias antes de terminar o prazo, a direcção da empresa, lider mundial do ferro e do aço, propos-me renovar e prolongar o vínculo contratual.
Agradeci, mas recusei, porque tinha sonhos a realizar e ir mais longe !
A minha decisão estava tomada e não recuaria por nada neste mundo: nunca mais trabalharia para mais ninguém, nunca mais dependeria dos outros e, muito menos, dos subsídios a que tinha direito: criei a empresa que melhor se adaptava ao meu perfil e, graças a Deus, consegui todos os objectivos que me fixei, duplicando os recursos que auferia como professor de língua e cultura portuguesas aqui no Luxemburgo.
Como trabalhador por conta própria e pequeno empresário, orgulho-me de ser um cidadão activo e de pagar atempadamente os meus impostos, contribuindo, assim, para o bem comum, como todo o homem e cidadão que se preza, cumprindo todos os meus deveres, porque sei que o Estado luxemburguês também garantirá os meus direitos quando for chegada a hora de me aposentar. E ai dele que não os cumpra, porque a minha dignidade jamais permitirá que um canalha - pessoa ou Estado - brinque comigo ! 
Sou assim: não faço mal a ninguém, mas também não permito que mo façam a mim !!!


Agora que já não lhes sou totalmente um desconhecido, vou recordar-lhes, muito sucintamente, um pouco da história do nosso país, para entenderem melhor o sentido das palavras que se seguirão. As pessaos que tiverem mais de 45 anos ainda se recordarão, seguramente, de muitos dos acontecimentos da nossa história recente. Os mais jovens, se não a viveram, estudaram-na ou conhecem-na pela evocação que, ciclicamente, dela se faz nos meios de comunicação social.

Em 25 de Abril de 1974, tinha eu 19 anos e 5 meses, quando o nosso país virou a página de quase meio século de ditadura. Nessa idade, participar numa revolução é como viver uma grande paixão. A intensidade desses tempos é proporcional à irracionalidade dos acontecimentos que, muitas vezes inconscientemente, provocamos. O apaixonado e o revolucionário fazem as coisas sem pensar, só as racionalizando depois de se aperceber do seu impacto, e, muitas vezes, quando já não  há remédio. 
Foi assim com a revolução: em nome da Liberdade, destruiram-se vidas e valores; lançaram-se povos no abismo da guerra e famílias nas ruas da amargura, quando não se lançaram no fundo do poço, como aqueles fanáticos que matam em nome de Deus!

No primeiro 1º de Maio da Era da Liberdade, saindo do Tamariz no Estoril até ao Cais do Sodré, vendo os cravos vermelhos cravados nas lapelas dos casacos e o orgulho estampado nos olhos dos passageiros que - como eu - se dirigiam para participar nas manifestações do Dia do Trabalhador, senti o sangue ferver-me nas veias e sonhei com um país livre e próspero como muitos outros. Pensei que, com a Liberdade e a Democracia, Portugal deixaria de ser o país pobre, atrasado e sem futuro, que lançara nas veredas as diáspora milhões de filhos seus ao longo do século XX.

Voltando para a pensão onde vivia, no fim da tarde desse memorável dia 1 de Maio de 1974, e analisando os pregões revolucionários que ainda ecoavam na minha alma, senti que algo estava errado e que a revolução estava manipulada. É que, introvertido e tímido, aprendera a ler nos olhos das pessoas.
Mas como todo o idealista que pensa que pode mudar o mundo, fui-me envolvendo cada vez mais no turbilhão da revolução, participando em tudo o que podia: recenseamento, sessões de esclarecimento, manifestações e comícios. Vi os golpes palacianos ou corporativistas e contra-golpes revolucionários, como o PREC e os governos incendiários, como assisti aos movimentos sociais, às ocupações selvagens, às expropriações arbitrárias e a todas as exacções igualitárias que foram levadas a cabo pelos mentores, executantes e capangas da ditadura do proletariado, que no fundo não passavam de oportunistas e " boçais " bem piores que os bufos da PIDE.

Como devem saber, a mírifica e idílica Revolução de Abril fez-se com um propósito tridimensional: Democratizar, para devolver a Liberdade ao povo português; Descolonizar, para devolver a Liberdade aos povos colonizados e Desenvolver, para devolver a Liberdade ao futuro da nação.

Agora, para evitar juízos devalor ou facciosismo, responda-me, caro compatriota:
Acha que algum destes objectivos foi realmente conseguido?
A Descolonização foi vergonhosa e infâme, porque, para agradar a gregos e troianos, entregámos o império aos russos e cubanos, abandonando milhares de portugueses e indígenas à sua sorte!

Porquê? Sempre em nome do facilitismo e do porreirismo dos nossos políticos, homens que falavam do que não sabiam e diziam o que não faziam.

O pai da democracia só de ares conhecia os compatriotas de Paris,o pai do proletariado passara a vida a meter cunhas no Kremlin e o único que nunca fugira e sempre procura fazer algo cá dentro, foi sacrificado como um cordeirinho. 
Abril foi idealizado e realizado por homens sem experiência nem vivência democrática.
Por isso temos e vivemos hoje numa ditadura perfilhada por uma democracia volúvel, que à força de prostituir os seus ideais, de abdicar das suas prerrogativas e de se demitir das suas responsabilidades, foi enfectada de morte pelos vírus da degeneração embrionária.
A vida fácil é o que dá !

Nestes anos todos, o Estado foi infiltrado e tomado de assalto por gangues organizados. O Estado é o padrinho e o grande Chefão das grandes famílias mafiosas, a quem distribui benesses para pagar a Lealdade, o Silêncio, a Dedicação e Cumplicidade criminosa.

Portugal está entregue a homens sem vergonha, a latados camaleónicos, com uma epiderme capaz de mudar de cor e se adaptar às mais inverosímeis circunstâncias. Detentores do manto da invisibilidade, esses trastes e mentirosos sabem que podem dar ganas aos seus baixos instintos, porque a honorabilidade sempre será salva pelos subterfúgios judiciais subtilmente arquitectados por hábeis juristas, os capangas da 4ª dimensão, que é via verde dos criminosos de colarinho branco e dos predadores imorais.

Caro compatriota,
Portugal há muito que está falido! Primeiro foram os valores morais a falir, depois seguiram-se os valores cívicos e humanistas.

Mais que vivência ou visão democrática, faltou coragem, equidade, justiça, bom-senso e realismo aos mentores de Abril. A indisciplina fomentou a irresponsabilidade e engendrou a arbitrariedade e a boçalidade que só conhece a razão da força.
Por isso Portugal é hoje o país da ilusão, do facilitismo e do oportunismo.
Os portugueses preferiram escutar o canto das sereias políticas e dos vendedores demagógicos - alguns deles verdeiros aldrabões de feira que mentem com os dentes deles e ainda sabem que podem contar com as dentaduras dos seus fiéis correlegionários - verdadeiros boys e girls gangues, cujo bailado pedante e despudorado é sabiamente reciclado por uma comunicação servil.

Sabendo que a lábia deles, à força de prevaricar e fornicar à esquerda e à direita, quando não faz propostas indecentes ao centro, os últimos irresponsáveis políticos descobriram um maná celestial para enganar a fome dos tolos que neles precisam de acreditar para continuarem a viver de aparências: o Estado Social !

Mas que miragem providencial para camuflar o abismo para onde Portugal está a ser arrstado!
O Estado Social é como aqueles pais que, para camuflar as suas responsabilidades, vão comprando a benevolência dos filhos com presentes que pagarão com dinheiro emprestado, até que um dia cairão na real e perceberão que passaram a vida a drogar os filhos e fazer deles uns parasitas da sociedade....


continua...

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