sexta-feira, 16 de abril de 2010

Aqui jaz Portugal !

Sou emigrante por opção e coragem. Em finais de 1975, depois do Verão mais tórrido da, então, balbuciante democracia portuguesa, em plena confusão revolucionária, e porque não podia mudar o meu país, mais que temer pela própria vida ameaçada pelos camaradas, decidi partir.

Desde pequenino que alimentei o sonho de ser " advogado " para fazer justiça e meter na prisão os larápios que se aproveitaram da ingenuidade do meu pai e, inventando faturas falsas, o levaram à falência.

Em 1974, com o diploma do Curso Complementar dos Liceus, média 16, pensei que não haveria mais percalços e os 5 anos em Coimbra passariam depressa. Aos 12 anos, depois de uma doença, que me pregou 3 meses ao leito e da qual escapei graças a uma jovem médica que se lembrou de me fazer uma análise sanguínea, prometera ao meu pai que não voltaria a " chumbar " e, feito o dificílimo 5º ano dos liceus, nunca mais duvidei de mim.

Político até à raiz da minha alma, impulsivo, impaciente, intransigente e incorruptível, sempre fui muito virulento na defesa dos meus ideais, porque traições ou cobardias para mim eram fraquezas imperdoáveis.
Autoconfiante, sabia que viera ao mundo para vencer e ser alguém!

Naqueles dois anos de sessões de esclarecimento e de comícios, percebi que estava perante um povo invertebrado e cobarde. Criaturas que só sabiam murmurar " Deus nos livre do comunismo," mas que ficavam de braços cruzados à espera que alguém desse a vida por eles.
Uma cambada de parasitas cheios de manias de grandezas, cada um à sua escala e no seu sítio, era o que mais se via.

Dois anos antes, em 1972, assistira à passagem de Marcelo pela Levandeira, vindo de Murça, rumo a Vila Real, num périplo pelo país esquecido e deu-me a sensação que o povo estava com ele.

Tímido e introvertido eu sempre fui, mas sagaz na observação da alma humana e das suas ressonâncias. Isso aprendi-o em nove anos de seminário.

Com a revolução de Abril pensei que tudo fosse diferente, mas no dia 1º de Maio de 1974, apenas oito dias depois do golpe de Estado, percorrendo as ruas de Lisboa, onde me dirigi, do Cais do Sodré até à avenida Almirante Reis, na mega manifestação da Liberdade com cheiro a cravo, olhando aquele mar de gente, percebi que os ideais Abril murchariam rápido, porque soavam falso.

Aos poucos, vi os valores do respeito, da solidariedade e da dignidade serem sacrificados às vãs filosofias e demagogias, que políticos de meia tigela iam espalhando pelos quatro cantos de Portugal.
Os mentores de Abril inocularam ideologias falidas na mente popular e foi aí que Portugal começou a ser contaminado por vícios perversos que, face à democracia manietada, não pararam de proliferar.

Hoje, Portugal é um país desacreditado, desonrado e desmoralizado.

A coragem e o altruísmo, que faziam de nós uma nação valente e orgulhosa, foi-se metamorfoseando em cobardia e egoísmo vil que, - políticos depravados, como alguns dos que temos vindo a eleger ao longo de 35 anos, - conseguiram branquear e vender ao povo ingénuo como uma virtude tão digna como as que os nossos egrégios avós realmente prezaram e defenderam com a própria vida.

Perante tamanha irresponsabilidade colectiva e filhos tão desnaturados, torna-se legítimo perguntar, se ainda vale a pena lutar por Portugal assim ou se não seria mais lógico que em cada aldeia da lusitânia se escreve uma lápide de granito ou de mármore com o epitáfio " aqui jaz Portugal " para que a barbárie do ajuste contas pudesse começar!

E é isso que acontecerá, se Portugal morrer ingloriosamente, iludido, traido e apunhalado pelos " mandões e chefões " tão fraca raça!



LMP - Luxemburgo, 16-04-2010

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