sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Grito de Saudade: 22-01-1998

Autobiografia de um espoliado e injustiçado de Abril !

          “ Nasci no dia 24 de Novembro de 1954, uma quarta-feira, depois do toque das Trindades, em Fiolhoso, uma freguesia do concelho de Murça, filho de um taberneiro, ex-emigrante aos 19 anos, depois de 11 Primaveras passadas por terras de Vera Cruz.

          Em Setembro de 1965 entrei para o seminário, donde decidi sair inexplicavelmente em Dezembro de 1973; no dia 7 do mês de Outubro do 1º ano da Liberdade, já tinha na mão todos os documentos necessários à inscrição na faculdade de Direito de Coimbra, porém os mentores da revolução não se entendiam, e o impasse, em que o país estava mergulhado, chegou às universidades; inevitavelmente, fui apanhado pelo turbilhão marxista-leninista que assolava Portugal; em 1975, então professor no Externato Técnico e Liceal de Murça, participei activamente no Verão quente, militando contra os papões da foice e do martelo. Não!, apesar de para lá do Marão haver muita seara e muita pedra, e escravidão também, não era desses instrumentos, arcaicos e manchados de sangue, que o meu Trás-os-Montes, esquecido por meio século de ditadura fascista, precisava para ser livre.
          Depois, como Portugal se mantivesse estranhamente asfixiado pelo fantasma da ditadura do proletariado, decidi ir respirar os ares da democracia que acerrimamente defendia e no dia 10 de Janeiro de 1976, passadas a peneira espanhola e a eira francesa, que sempre me disseram que eram, cheguei ao meu destino, o Luxemburgo, um adorável pigmeu de alma generosamente gigante, no coração da velha, mas rica Europa, que abrira os braços ao meu pai em 1973 e a quem estarei eternamente grato; no dia 27 de Janeiro, sempre com o sonho da advocacia na cabeça e porque falava com relativa fluência as línguas de Molière e de Shakespeare, comecei a trabalhar como servente de mesa num hotel de Ettelbruck; em 15 de Julho, entrei para a Good Year de Colmar-Berg, onde, para começar e porque era por pouco tempo, - pensava - aceitei um trabalho simples, como toda a gente, num departamento novo, mas os nossos compatriotas ali empregados achavam degradante um estudante, e ainda por cima ex-professor, descer ao nível deles: “ se eu tivesse um filho assim, não o deixaria vir para aqui - diziam. ”

          Recordo-me que em Dezembro de 1979, quando a URSS invadiu o Afganistão estava no Rio de Janeiro a realizar um sonho e a cumprir uma promessa que fizera aos meus tios paternos, brasileiros para ali retornados. No último dia de férias, parei numa carioca com quem casaria dezoito meses mais tarde, em 1981. Contudo, e apesar de todo o encanto tropical e o apoio das nossas famílias , preferi voltar para a fábrica e..., chegados os filhos, aí permaneci até 22 de Outubro de 1987.
          De 1987 a 1991 trabalhei para uma imobiliária portuguesa onde atingi a posição que me permitiria voltar, finalmente, à pátria para cumprir a famigerada etapa universitária e realizar o meu sonho de infância, mas, depois de uma ascensão fulgurante, a empresa deixou-se enredar na megalomania de um director incauto e, falida, adeus Portugal, mais uma vez. Todavia reconheço que em 1991 já não era a advocacia que mais me fascinava.

!!!
Quando o amor vem
 ninguém retém 

um coração
onde nidificou a paixão

!!!
Durante estes 22 anos da minha vida, dediquei, felizmente, os meus tempos livres a hobbys apaixonantes, como a rádio, a video e a fotografia e sobretudo a escrita.
No Luxemburgo, conheci e aprendi a valorizar a força do trabalho e a viver em liberdade; aqui conheci o verdadeiro significado da intraduizível Saudade e o orgulho de ser quem sou, um português da diáspora; mais, aqui me recordo ter chorado nas noites de 4 de Dezembro de 1980, quando, entrando num café de Larochette, a vila mais portuguesa do Luxemburgo, ouvi o locutor da primeira cadeia de televisão francesa, anunciar a tragédia de Camarate e de 19 de Julho de 1987, ao ouvir o triunfo do ideal generosa e estoicamente defendido no Verão quente de 1975; por ele sei que jamais aceitarei cargos que me forcem a deixar de ser quem sou, ― impetuoso, irreverente e incorruptível ― , desculpem a imodéstia , e a adoptar os comportamentos hipócritas que reprovo e combato, como a demagogia, a mentira e a corrupção activa ou passiva, apanágio dos políticos que só sabem a conjugação reflexa, nas variantes brasileira e portuguesa, do verbo servir, ou seja: primeiro eu me sirvo e depois, esperai povinho meu!, agora sirvo-me eu! Não será assim a democracia do pobre, rica democracia?
Muito teria ainda para vos dizer, mas isso ficará nos livros que escrevi e escreverei se, além da vida, Deus me der engenho e arte, como dizia Camões, outro Luís, degredado como eu, e a musa, com quem fiz as pazes há um ano, continuar a velar por mim.
Actualmente, estou a ensinar a cultivar e a perpetuar a pátria de Pessoa, a Portuguesa Língua, aos luso-descendentes, que muitos querem ver assimilados e subalternizados neste país de leite e mel, onde um dos alimentos da alma, a cultura, tanto sabe a fel. 
E. basta!
Ah! deixem que vos escreva e diga o que muitos pensam:

   ― Chegou a hora de o dinheiro deixar de ser primeiro para muitos pais portugueses que aqui vivem, se não quiserem ter o inglorioso privilégio de passar à história, ― não! desses não rezará a História! ― como uns escravos que para aqui vieram e viveram toda a vida a labutar como danados para..., no limiar da morte, verem os seus filhos mais desgraçados que eles, quando para cá vieram. 
Por favor, sejam gente!!!, não por mim, nem pelos outros, mas por vós e pelos vossos filhos!!! 
Não se demitam das vossas responsabilidades, como pais e como cidadãos, Homens de Deus!!!, porque a nossa condição humana, além dos direitos e dos deveres inerentes à vida em sociedade, também nos impõe limites a não pisar, sob pena de não nos distinguirmos das outras espécies animais... 
Por fvor, não hipotequem o futuro dos  vossos filhos e não façam deles os escravos de amanhã nesta terra!
          Portugueses, desculpem este meu grito de revolta, se podem, mas é uma responsabilidade muito grande sermos e proclamarmo-nos os legítimos Herdeiros da Gesta Quinhentista, aqui, na Europa, no Mundo ou em Portugal, a Pátria-Mãe de quem todos nos orgulhamos! 
Ou não? 
Então...
   Acreditem, urge agir, agarrar o nosso Destino com ambas as mãos e fazer rimar Felicidade com Dignidade, para que no século XXI ao pronunciar o nome de Portugal ninguém tenha vergonha de falar de igual para igual com qualquer outro vizinho desta Aldeia Global que se tornou a Terra... ”

Luís Macedo Martins Pereira - Luxemburgo, 22 de Janeiro de 1998

Ao Jornal Contacto
Caro José Luís,

La Force du destin
foi publicado 

em 2001
pela Société
des Écrivains
Paris - France


    Como certamente se recorda, há meses, a quando do encontro dos professores com o banco Mello, tive a oportunidade de o conhecer e de lhe falar de um dos meus hobbies: a escrita, contando-lhe o enredo do romance que estava a acabar. Depois disso, já escrevi o seguimento, de 8 de Fevereiro a 18 de Março de 1997, que se pode ler e compreender independentemente do primeiro.
    Entretanto, e como lhe referi em Outubro, recebi a resposta do meu Nobel amigo de Timor, uma das personagens dos livros. Como, apesar de viver simplesmente, sei que infelizmente aquele povo mártir precisa de toda a ajuda do mundo para ser livre, e porque também sei que os grandes, por meros interesses comerciais, não querem ou têm medo de lha dar, pensei que todos unidos, poderemos ajudar a manter viva a chama da esperança da Liberdade dos nossos irmãos de Timor Lorosae. Por mim, estou disposto dar os meus livros e a minha voz.

    Aqui lhe envio o manuscrito d’ “A Força do Destino ” e um exemplar do Escravo do Amor, o meu primeiro romance. Como pode ver pelo fax que lhe envio, o corajoso Monsenhor Carlos Filipe Ximenos Belo, de que tanto nos orgulhamos, está a travar uma luta desigual contra uma ditadura muito perigosa, porque decadente, e precisa, mais do que nunca da nossa ajuda. Peço-lhe, porém, que não torne pública a nossa correspondência, pois será o senhor bispo a falar-nos de viva voz, quando aqui vier, se a sua presença se justificar.

    Também lhe remeto UM GRITO DE SAUDADE que preparei para as editoras e os jornais que tenciono contactar e esse, sim, poderá publicá-lo, sobretudo neste fim de prazo para o recenseamento eleitoral, porque há muitos compatriotas nossos que se estão a demitir das suas responsabilidades e merecem um puxão de orelhas.
    Sem outro assunto, me despeço atentamente e me coloco à sua disposição para dar seguimento a esta ideia, se o contacto achar que vale a pena.


 Carta enviada a várias revistas 
 Ex.mos (as) Senhores(as),

     Como certamente poderão ler pela autobiografia de um espoliado de Abril que anexo, a literatura, ou melhor dizendo “ brincar com as letras e as palavras, escrevendo-as ” foi um refúgio que sempre viveu dentro de mim, onde me abriguei para fugir das ciladas do mundo ou dos desgostos da vida, sentimentais, profissionais ou até mesmo espirituais. É que escrever é realizar sonhos, é criar novos Mundos na Terra e nos Céus; escrever é ser... Deus, simplesmente.
     A paixão pelas palavras senti-a em 1966, amadureci-a até 1974, mas, lançado no degredo e espoliado do sonho da advocacia pelos mentores de Abril, quase a reneguei, a suicidei. Agora, porém, feitas as pazes com a musa, sei que, independentemente da importância que os outros lhe derem, lhe serei fiel até à morte, porque ela é o meu talismã, a minha sorte.
     Mesmo que o manuscrito não passe de uma pedra tosca condenada ao desprezo da existência ou à ignorância, o prazer que vi nos olhos de quem o leu e as palavras de um Nobel (*) amigo meu, personagem vivo desta ficção, já me pagaram o bastante para continuar fiel à minha amante.
     Sei que estou a aprender a ser cada vez melhor e, nesta fiel caminhada rumo à perfeição, se é que se pode atingir ou medir a perfeição, preciso de ajuda de todos. A vossa é publicá-lo se merece e podem, ou, pelo menos, serem sinceros comigo e me apontarem os defeitos, porque não é lisonja que eu procuro, mas tão somente uma razão para Ser e dignificar ainda mais esta paixão.

     Antes de terminar queria dizer-lhes que é bom saber que existem.
     Obrigado pela atenção dispensada e boa leitura.
     Atentamente

Luís Macedo Martins Pereira / Mac. Martinson

«  Trop meurtri par l’assassinat de ses parents, quand il n’était qu’un enfant, Rui Patrício décida de n’obéir qu’à sa conscience, d’assumer ses actes et d’en payer le prix. 
Finis les tabous, les interdits et les qu’en-dira-t-on ! Dorénavant, sa vie, ce serait à lui de la vivre… 
Et, à l’aube de ses dix-huit ans, le gamin timide et introverti, qu’il était au séminaire, s’est cru devenir un homme, en cet été 73, le jour où, tel un Prince Vaillant , il avoua à Dina, la jeune et étincelante journaliste que son parrain avait épousé en secondes noces, qu’il l’aimait... »

Autobiographie

          Quand, le 25 avril 1974, mon pays, le Portugal, retrouva la Liberté, je crus que, après le bac, la fac ne serait qu’une formalité pour moi. En rêvant, je me voyais l’avocat que j’ai toujours voulu être ! Hélas, le destin…, aidé par les marxistes, en a décidé autrement, fermant sine die les universités du pays.
        Puis, las d’attendre, en janvier 1976, je me suis décidé à quitter mon village de Fiolhoso, dans le nord, et à traverser l’Europe pour rendre visite à mon père, émigré au Grand Duché de Luxembourg, car de l’argent pour la fac j’en aurais besoin, le jour où les portes de l’université me seraient ouvertes, mais je ne suis plus rentré chez moi.
        Ici, pour survivre avec dignité et nourrir mes rêves, j’ai été, successivement, garçon, ouvrier, employé privé, agent immobilier, enseignant et chômeur, avant de, pour sortir du chômage, m’établir à mon compte. Comme passe-temps j’ai eu le football, la photo, la vidéo et la radio, tout en cultivant en secret la grande passion de ma vie : l’écriture !
        Après avoir participé à des concours de poésie, tout jeune lycéen, j’ai écrit mon premier mon premier roman à vingt-deux ans. Puis, les aléas de la vie m’ont fait oublier les muses, jusqu’au jour où, en m’achetant un ordinateur, j’ai voulu corriger les manuscrits que j’avais écris et enfouis au plus profond des tiroirs. Aveuglée par le néant, l’inspiration, que je croyais morte, ou partie à tout jamais, a quitté soudainement l’hibernation léthargique, où elle semblait plongée, et, tel un vulcain endormi, fit jaillir de mes neurones ce bouquin, écrit en dix-neuf jours. Chez moi, sagittaire idéaliste, la vie c’est comme çà : des défis et des rêves…, toujours sur la lame du rasoir…
        Je dédie ce roman à mes enfants, à mon épouse, à mon ami Carlos Filipe du Timor Oriental, ainsi qu’à celles et à ceux que, par le monde, oeuvrent pour que les inégalités, la faim, les préjugés et la guerre soient bannis de la face de la Terre.


Autobiografia

Em 1976, cansado de esperar pela abertura da faculdade, que os marxistas haviam trancado a sete chaves dois anos antes, decidi vir ver como o meu pai, emigrante desde 1969, ganhava os francos com que me pagava os estudos, na Escola Salesiana do Estoril.         
Vim por curiosidade, mas acabei por ficar. 
E já lá vão 25 anos!         
Numa geração realizei muitos sonhos impossíveis, mas conheci também a dor amarga da Saudade e, de adiamento em conformismo, vi o meu sonho de criança esvair-se nas brumas da ilusão, antes de cair irremediavelmente nas masmorras da virtualidade.
Jurista nunca cheguei a ser, mas muito me honram as inúmeras causas que advoguei, sobretudo as que perdi para defender a minha íntima convicção, neste meu itinerário pelo Grão Ducado do Luxemburgo.

Aqui, fui, realmente, estudante, operário, fotógrafo, locutor de rádio, professor ou agente imobiliário, e, muito naturalmente, escritor..., porque isso comecei a sê-lo nos bancos da escola da minha terra natal, Fiolhoso, uma aldeia do concelho de Murça, onde nasci há 46 anos.

Este romance dedico-o aos meus filhos e à minha esposa, a musa que muito me inspira, ao Carlos Filipe, meu Nobel amigo de Timor Lorosae, e a todas as pessoas que, pelo mundo, fazem rimar quotidianamente a Felicidade com a Solidariedade e a Fraternidade.

Luís Macedo Pereira

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