sábado, 24 de dezembro de 2011

Promiscuidade Xuxalista !

Aventura de D.Quixote e Sancho Pança na Lusilândia ou:
A  PROMISCUIDADE E A IGUALDADE:  
Segundo Gutazar I, o Prometedor!

Se, por curiosidade ou desconfiança, consultar o dicionário, verá que tanto a promiscuidade como a igualdade são substantivos ou nomes femininos, comummente abstractos, porque qualidade ou estado raramente visíveis e explicitamente concretos, mas passo a copiar essas definições, segundo a Porto Editora: pág.1156, promiscuidade: s.f. qualidade ou estado de promíscuo; mistura confusa e desordenada.; pág.776, igualdade: s.f. qualidade do que é igual; correspondência perfeita entre as partes de um todo; organização social em que não há privilégio de classes; equação; identidade “ ponto final, fechar dicionário!
Só que o calhamaço não refere que cada ser humano tem e justifica a própria versão de tais conceitos. Eu — porque não passo de um Luís menor ou, se preferirem, um zé ninguém, mas posso incomodar muita gente, sobretudo agora, nestes vangloriosos tempos, em que uma ditosa maioria pensar ter o rei na barriga e a verdade absoluta na mona, — decidi escrever uma parábola, copiando Miguel, o Cervantes, pois imitar Jesus, o Cristo, não me atrevo, para não ser crucificado, porque espoliado do sonho que comandava a minha vida há muito que o fui!
Neste mundo virtual, em que a ficção está a por o carro à frente da realidade eh! Não vejam nisto nenhuma maldade, é só para renovar um pouco o velho ditado e pôr os boys a descansar mais um bocado há um país, à beira mar plantado, a Lusilândia, que, na opinião de muitos analistas, possuiu o húmus ideal para criar bananas rosadas, atributo sine qua non da penetração no mercado de sua Majestade Gutazar I, o Prometedor! Com efeito, depois de obter cinicamente o poder quasi-absoluto sobre os súbditos do seu reino, à força de muitas promessas e água benta na mona dos seus fiéis e devotados acólitos, e graças à aquiescente abstenção dos nacionais e dos emigrantes, El Genial, Generoso e más Grande Comandante, até conseguiu inventar uma versão virtual da promiscuidade e da igualdade!
Mas que coisa mais normal nesse país virtual, onde, depois do perfeito bananal e seguindo o princípio do menor esforço e do maior proveito, tudo é naturalmente banal, porque, como cada roca tem seu fuso, toda a terra tem seu uso! E os costumes da nossa sempre foram muito brandos.
Está a torcer o nariz? Mau! Não aprova, não sabe, ou não quer? Se não sabe é porque anda mal informado! Pois, agora já pouca gente lê jornais diários, porque lá na Lusilândia há tantos incendiários que já falta pasta para fazer papel e o pouco que sobra tem que ser para fazer estrume para alimentar e manter na moda o orgulhoso bananal cor-de-rosa ! Se o irritei, direi que vê muito a RTPi, mas sempre as mesmas novelas e as balelas chatas daqueles apresentadores virtuais, que nem secretária possuem, onde tudo se engraxa e põe no altar, ou então os comentadores de futebóis, onde tudo se bota a baixo, isto só para contrariar! Desculpe, mas tenho que deixar o meu diagnóstico a meio, porque, se não sonho, alguém chama por mim ou estou a cair na realidade virtual! Ai que dor de cabeça…, de tão confuso, já vejo tudo obtuso!

   Ou! Ei! Ou! Ò tu aí! Como te chamas? indagou o cavaleiro das estrelas.
   — Sancho Pança! Mas... que me quer o meu senhor! Ei, pare aí, homem de Deus! Escusa de brandir essa lança que eu nunca fiz mal a ninguém! Nem aqui nem além, nem lá p'ra riba nem lá p'ra baixo!
   — Sim, mas tens olhos na cara para veres que na Lusilândia há alguém que se está a armar arma em Santo António dos Cavaleiros... do Apocalipse.!
   Então não havia de ver! Cego não sou e nem preciso de lunetas!
   Vá, deixa-te de lérias e puxa lá pela mona, que a tens bem grande, e diz-me se promiscuidade e igualdade não te fazem pensar em ninguém.
   Ui! A Alguém e de mui importante, queria vossa mercê dizer! esclareceu o escudeiro.
   Pois, com as ganas que lhe estou… Ei, sabes ou não sabes?
   Então não houvera de saber, mestre?! És El mui Genial, Generoso e más Grande comandante senor Gutazar de Lusilândia, d’ Algarve, d’África,e d’ Ásias maiores e menores e de las Américas do Cima, do Baixo e do Meio , sem esquecer d’ Europa…
   Basta de títulos, desgraçado, que já me deixaste azedado!
   Eu ainda não expliquei tudo, meu senhor!
   Mas poderá, porventura, um monhé ou um mongo pançudo como tu explicar a realidade virtual?
   Pronto, se acha que sou assim tão choné ou monhé porque me pediu que puxasse pela mona?
   Foi só para saber se estava a sonhar com bruxas ou tinha os pés bem assentes no chão. Vá, fala, Sancho, fala!
   Se bem me lembro…, não foi sua Majestade Gutazar, El Más Grande Comandante e o todo Omnipotente protector de Timor Oriental, de quem o senhor D. Quixote pouco gosta, está-se mesmo a ver, que, para declarar guerra à promiscuidade, decidiu eleger e elevar à categoria de ministro, secretário ou comissário o seu confessor, pois a promiscuidade para ficar bem limpa tem que sair primeiro da alma , achando que aquela seria a solução providencial, sobretudo no mar de rosas daquele banal?
   Pois, é como nos incêndios: mata-se o fogo com o fogo! Mas…, continua que afinal não és tão mongo como pareces!
   Ai, se me faz assim tão… burro, porque me pedirá o senhor todos estes conselhos?
   Não vês que te eu estou a pôr à prova, Pança? Anda, desembucha homem, que estou com fome!
   De quê? Assim tão esquelético o senhor também precisa de comer? zombou o barrigudo.
   Se soubesses o larote que tenho à injustiça! Ai que ganas! Ai…
   Acalme-se lá, senão morre cedo, Mestre! Vá, se isto o pode consolar, e como ando desempregado, estou disposto a segui-lo até à Lusilândia para declarar guerra às bruxas, à promiscuidade e à Igualdade!
   Ah! Agora és tu que tens um lapsus linguae, Sancho! P'rá próxima vez, pensa primeiro, homem de Deus! Nós vamos declarar guerra à Desigualdade, Sancho!
   Não, não tive nenhum lapsus linguae, mestre! Então aquele Ministério da Igualdade não foi a artimanha que Gutazar teve para matar dois coelhos de uma só cajadada?
   Ai! Querem ver que o escudeiro se está a armar em Cavaleiro! Houve, tu nasceste para servir, Sancho! O único que pode combater as bruxas que se refugiaram nos moinhos de vento sou eu, Dom Quixote de la Mancha, ouviste?
   Pois, com essa raiva toda, o mestre só podia ter ficado contaminado!
   Deixa-te de lérias baratas e de reflexões abstractas, escudeiro, e explica-me lá essa das duas cajadadas!
   Então o Senhor Gutazar, justo como quer parecer e sábio como é, teve que engendrar uma maneira de branquear a desigualdade e sonhou com Ministério da Igualdade, que entregou à favorita da sua corte, para que ela distribuísse os trezentos milhões, com que se devia ter sarado a saúde (profunda ) mental) do povo, pelos afilhados!
   Ah! Agora, percebo! bradou o cavaleiro, também ele inspirado por uma visão messiânica.
   — Ai percebe? Então diga lá para eu perceber se você é verdadeiramente inteligente ou…se faz!
   Então tu não vês, nobre Sancho, que se os trezentos milhões fossem realmente aplicados a sarar as mazelas mentais do povo, ninguém acreditaria nas lérias e nas balelas e…adeus poder absoluto!
   Nunca imaginei que a realidade da sua sabedoria virtual fosse tão pura como é! Realmente o D. Quixote é verdadeiramente o maior e o mais valentes dos Cavaleiros apocalípticos!
   Apocalípticos! Isso mesmo, vamos que o Combate Final vai começar na Lusilândia, onde tudo irá de mal a pior, se o senhor Gutazar lá enraizar o ba(na)nal! Ai que raiva, meu Deus! Abaixo Gutazar! Ao ataque! Morra Gutazar! gritou desesperadamente D. Quixote, brandindo a sua lança de papel.
   Mestre!! Espere por mim, mestre! Não pique tanto o seu cavalo que a minha burra anda de barriga cheia! D. Quixote! Não me deixe aqui sozinho! implorou o escudeiro, agarrando-se ao animal.
   Despacha-te, Sancho! Se a burra também tem a pança cheia, deixa-a pastar à vontade e vem pés calcantes. Morra Gutazar! Abaixo o ditador! Morra Gutazar! Ai… Ai que dor…
   Ainda bem que se dói, mestre, porque quem não se sente não é filho de boa gente!
   — Ai! Ai!...
Mesmo sabendo que gritava para orelhas moucas, D. Quixote berrou tanto que perdeu o pio a meio do caminho. E, reconhecendo no escudeiro as mais nobres qualidades, o armou ali Cavaleiro das Estrelas, para que os gritos do Sancho Pança chegassem por ele e por todos os injustiçados da Lusilândia aos Céus e fizessem acordar aquele que nunca devia dormir!"

NB: Esta parábola não passa de uma pura ficção, mas, se por mera coincidência, for mais real que a virtualidade, considere-se apenas como mais um aviso azarado, que quis que da mentira saísse tal verdade! Quanto aos pobres milhões, comprei―os na loja dos trezentos!
  
Luís Macedo Martins Pereira Luxemburgo, 03-11-1999 13:38:27

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