domingo, 4 de outubro de 2009

Carta Aberta a António Guterres - PM de Portugal - 1999

Carta Aberta ao
Senhor António Guterres ― Primeiro Ministro de Portugal


Senhor Primeiro Ministro,
Achará, porventura, Vossa Excelência, muita ousadia um Luís Ninguém escrever-lhe uma carta aberta, mas não é. Considere-a apenas como o lamento do coração revoltado e da consciência irreverente que Deus me deu, e a quem terei que prestar contas pelo que senti, pensei, disse ou fiz durante a vida, inclusive pelo que omiti e calei.

Vivo no Luxemburgo e nunca exerci cargos políticos nem mendiguei jobs, — e descanse que jamais o farei a quem quer que seja e tampouco plebiscitarei políticos profissionais que cedem facilmente ao canto das sereias — pois prefiro fustigar almas que lustrar sapatos para obter facilidades. Sabe, eu adoro as dificuldades: assim não corro o risco de subir muito depressa ao Céu no balão de uma qualquer facilidade ou da futilidade que só afasta os homens do caminho íngreme que conduz à verdadeira Felicidade, que espero alcançar no inelutável FIM que marca, infalivelmente, o Princípio da Eternidade! “ Os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros! ” — Lembre-se!
E mais versículos sagrados não cito, a quem parece conhecer tão bem a Bíblia.

Senhor Primeiro Ministro, conhece Vossa Excelência, pela História e se calhar pela vida, a irracionalidade do Destino, acredite-se nele ou não. Jeanne d’Arc, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, James Dean ou mesmo Ayrton Senna são personagens, a quem o Destino concedeu fortunas diversas. Evocarei, porém, para ilustrar o meu propósito, somente o Destino de dois seres: o do Excelentíssimo Senhor Senador Ted Kennedy, irmão do presidente assassinado e patriarca da mais célebre família católica Americana, e o do nosso D. Sebastião, o mais Desejado dos nossos monarcas.
E pergunto: terá o Destino exigido que, depois do trágico acidente de Chappaquidick, em que a sua secretária perdeu a vida, o benjamim dos Kennedy sobrevivesse para assistir às tragédias dos seus, mas renunciasse à Presidência da América, para a qual parecia predestinado, impedindo-o, assim, de controlar ou, quando menos influenciar, os Destinos do Mundo? Só Deus sabe… quando escreve direito por linhas tortas!
Quanto ao fim trágico do Desejado, ainda se lembra, senhor Primeiro Ministro? Pense bem! D. Sebastião partiu para África iluminado pela luz da sua Fé e cheio das mais nobres intenções, certamente depois de pedir conselho ao seu tio Filipe II, monarca astuto e calculista, mas a sua temerária e louvável empresa falhou redondamente. O jovem príncipe, perdendo a vida, acabou com a linhagem da Ínclita Geração e feriu de morte a Independência de Portugal, condenando o povo lusitano a chorá-lo durante décadas!

Considera, Vossa Excelência, que D. Sebastião foi corajoso?, imprudente?, pretensioso? ou que o Destino dele era morrer na Primavera da vida? Quanto sofrimento, Senhor Primeiro Ministro! E depois, quantas guerras e vidas perdidas para restaurar a dignidade nacional? Caprichos do Destino? Talvez! Enfim! Cá cheguei e com muita pena, mas estas são apenas só mais algumas linhas do meu Destino!
O Senhor Primeiro Ministro, que foi muito votado, está bem cotado e será ainda mais idolatrado por uma corja de boys, alguns mais falsos que Judas, teve o condão de ressuscitar o fantasma de Alcácer-Quibir, mas com esta terrível nuance: se o Príncipe morreu a lutar heroicamente contra os muçulmanos nas areias, nos rochedos ou nas masmorras de África, Vossa Excelência, depois de se limitar a chorar ao telefone, assistindo impotente ao massacre de um inocente povo, lá longe, em Timor Oriental, a quem a ONU, Portugal e o senhor, em Primeiro, traiu por ingenuidade e conduziu involuntariamente ao Golgotha, viverá para conhecer a Desolação Final!

Como D. Sebastião, Vossa Excelência defendeu com a mais profunda convicção e uma Fé ardente, não duvido, uma Nobre Causa, a de Timor Loro Sae, o que muito o honra, mas confiou num pérfido “ Latado .”indonésio, quiçá ainda mais na ONU e o demónio plantou o Inferno onde o senhor quis semear o Paraíso, destruindo os templos sagrados do mesmo Deus em que tu, irmão António, e eu acreditamos. Num tribunal humano serias acusado de incendiário por negligência, no mínimo! Culpa do Destino? Fatalidade? Imprudência?

Pronto, Senhor Primeiro Ministro, não adianta chorar e tão pouco quantificar as culpas ou as boas intenções, de uns ou de outros! A História cá estará para o julgar, mas antes permito-me dizer-lhe isto:
Senhor António Guterres, como o Primeiro Responsável do Governo de Portugal, Vossa Excelência deve renunciar à sua recondução como Primeiro Ministro ou pelo menos abandonar a política por uns tempos e iniciar a sua travessia do deserto para purgar da alma o eco de centenas de inocentes, nossos irmãos, que conheceram o Inferno da demência humana em Timor, porque acreditaram, entre outros, em Portugal, em si e em nós, democratas e homens livres do mundo!
É imoral e infame, sobretudo para o Senhor Primeiro Ministro, fazer a campanha eleitoral nestas condições e sujeitar-se a consumar e festejar uma DITADURA COR-DE-ROSA no sangue de Timor, porque um homem justo não quer vitórias que ele sabe, em consciência e melhor que ninguém, que são das mais degradantes derrotas.
O sonho era lindo, mas tornou-se um pesadelo!

Eu preferiria que o senhor Primeiro Ministro ficasse na memória da Nação Portuguesa, como o Inocente ou o Justo, mas quem sabe se é Destino o seu fazer rimar Vanglória com Vitória, casar Horror com Despudor ou Imoralidade com Fatalidade e ficar na História de Portugal como o 1º “ Ditador “ da Era da Liberdade ou o simplesmente o Promessas?
Que dilema o nosso, Senhor Primeiro Ministro! O meu foi de me encher de coragem e lhe escrever o que a consciência me ditou, e o seu será de ouvir a sua e decidir. Ambos exercemos o Direito à Liberdade e não pense que o estou a julgar. Apenas constato esta horrível e tenebrosa realidade: Timor está a morrer! TIMOR ESTÁ A MORRER!!!
“Antonius!!! Antonius, qui fecisti??? Quoque tu, Antonius, filio meo?! “
“ Pai, perdoai-lhes que eles não sabem o que fazem! ”
Como cristão e homem livre, exerci o meu direito à indignação, e aqui termina a minha missão, porque cada ser humano deve saber onde começa e acaba a sua DIGNIDADE!
Porém não se esqueça que, nesta e na outra vida, tudo tem um preço que teremos que pagar infalivelmente e que a salvação é uma conquista individual!
Que Deus ilumine a sua consciência e, sobretudo, ajude TIMOR a ser e viver LIVRE!


LMP — Luxemburgo, 1999
Nb: esta Carta foi enviada a vários jornais portugueses, mas nenhum se dignou publicá-la, por razões óbvias !

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