quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quando o PPD não tinha medo de ser " reaccionário " !

Estávamos em pleno Outono de 1973:
" Simplesmente Maria " era o folhetim radiofónico que apaixonava Portugal; no ultramar a luta contra os " turras " não abrandava, mas Spínola defendia entrega da Guiné, que não dava coisa que prestasse; as Conversas em Família, do professor Marcelo Caetano, batiam picos de audiência, até porque o povo não tinha outra escolha e tinha o Senhor Presidente do Conselho em muito boa conta; eu, que vivia nos Salesianos de Manique do Estoríl, começava a sentir o peso de um dilema que me exigiria muita audácia coragem: libertar-me da " Celestial Tirania ", como mais tarde escrevi, sem magoar ninguém, isto é os meus pedagogos e a minha família.

Foi nesse contexto de emancipação e libertação exterior, que pela primeira vez ouvi falar de um certo Sá Carneiro, deputado da ala liberal que preferia afrontar o regime salazarista por dentro, desafiando a DGSE - ex-Pide - , a polícia secreta portuguesa.

Em dezembro de 1973, obedecendo à minha consciência, abandonei o seminário, libertando do jugo sagrado e assumindo as consequências de tal decisão. Agora, que me conheço, sei que os sagitários detestam " facilidades " e adoram os " desafios ". Até parece que luz colhida no inferno tem mais encanto!

Por isso, quando nos dias que se seguiram 25 de Abril de 1974, vi Sá Carneiro ser convidado pelo MFA - Movimento das Forças Armadas - para assumir funções no Primeiro Governo da Era da Liberdade, senti um orgulho e um alívio, porque com ele os " oportunistas esquerdistas " não fariam farinha.

Em Agosto de 1974, regressando a trás-os-montes como o diploma do Curso Complemntar dos Liceus e a consequente Aptidão para minha inscrição na Faculdade de Direito de Coimbra, a minha adesão ao PPD - Partido Popular Democrático - impôs-se como um Dever Cívico e uma questão de Honra: eu, que tinha assistido ao primeiro 1º de Maio em Lisboa e conhecia as lutas intestinas no seio do MFA, sabia que para reconstruir um Portugal livre os Homens eram poucos!

O Verão de 1974 passei-o a instalar, com os " Homens Bons " de Murça, o PPD no concelho, percorrendo e palmilhando as estradas e os carreiros do nosso município e organizando sessões de esclarecimento junto das populações.
O nosso " ideal " era o carburante que gerava na nossa alma o desprendimento que fazia brilhar nos nossos olhos aquele entusiasmo contagioso que arrastava as multidões por onde passávamos.

Os anos de 1974 e de 1975 foram realmente árduos, mas nas nossas hostes ninguém poupava esforço, engenho e arte, para chegarmos à vitória. Apesar do desejo de protagonismo, nós sabíamos que a União fazia a Força e as " divergências " rapidamente eram sanadas, porque Portugal estava sempre em Primeiro no nosso espírito.
Nos primórdios da " democracia " o PPD não tinha medo de ser " reaccionário "!

Hoje, mais que a saudade desses anos " loucos " e o orgulho do dever cumprido, é nojo e vergonha dos caciques imbecís que se aproveitam do partido para se " armarem " aos cágados e fazerem figuras de otários no Reality Show que se tornou a política portuguesa.

Oxalá, amanhã, o nosso mártir consiga calar e pôr no sítio a " ambição e a cegueira " desses " pseudo-pêéssedês ", para bem de Portugal, que tanto precisa de quem o livre da ditatura cor-de-rosa que tão negro futuro lhe assegura.


LMP - Luxemburgo, 21-10-2009
Links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_S%C3%A1_Carneiro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Social_Democrata_(Portugal)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_dos_Cravos

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